A expectativa da indústria hoteleira é de que a retomada do turismo ocorracom a chegada de uma vacina contra a Covid-19, o que esperam para os meses de janeiro ou fevereiro de 2021. “A partir daí podemos afirmar que em dois anos estaremos recuperados plenamente no turismo de lazer e entre três a quatro anos no de negócios”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH) Manoel Linhares, durante a entrevista através de um webinar realizado pelas ABRAJET’s do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), na terça-feira 25 de agosto, na qual se discutiu o “Setor hoteleiro e sua retomada no Sul do Brasil”.
O webinar foi coordenado pelo presidente da Abrajet Nacional, Evandro Novak e contou com a participação dos presidentes das ABIH’s do Paraná, Orlando Kubo, de Santa Catarina, Osmar Vailatti e do Rio Grande do Sul, José Reinaldo Ritter. Participaram também o proprietário do hotel Renar, Edson Ziolkowski (SC) e os diretores-gerais do Machadinho Thermas Resort (RS) Juarez Tavares e da Rede Mabu (PR), Eduy Azevedo.
Tanto Linhares quanto os presidentes das ABIH’s dos três estados do Sul tem a mesma posição em relação a retomada plena e, enquanto a vacina não chega, apostam na rígida aplicação dos protocolos sanitários de segurança para os seus hóspedes. Dessa forma buscam recuperar hóspedes e reverter os prejuízos. “A Covid foi brutal para a economia em geral, mas foi devastadora para nós. O turismo é diferente do agro e da indústria em geral, pois não temos estoque para armazenar. Noite não dormida num apartamento de hotel é noite perdida. Uma perda de 20% temos como aguentar, mas perdemos de 95 a 100% de nossos hóspedes”, enfatizou o presidente da ABIH Nacional.
Linhares defende que é hora de se buscar aquele turista que em tempos normais fazia viagens internacionais para o turismo. “Nós temos um país com atrativos diversificados, cada região tem atrações de qualidade para oferecer e muitos brasileiros não conhecem nem os seus estados”, afirmou. O líder empresarial citou dados oficiais da balança comercial do turismo, destacando que os gastos no exterior tem sido, nos últimos anos, entre 18 a 19 bilhões, enquanto apenas entre 6 a 7 bilhões entram no Brasil. “Esse é o momento de chamarmos nossos tradicionais turistas e de buscarmos esse brasileiro de viagens internacionais para nosso hotel e atrações. Temos condições e qualidade para atender toda essa demanda”, assegurou.
Divulgação dos atrativos
Para fazer frente a essa pretensão de aumentar a clientela da rede de hotéis, Linhares enfatizou que vem participando, junto com as demais entidades do setor, o chamado grupo G8, de reuniões com a Embratur e Ministério do Turismo, solicitando que sejam feitas promoções visando a divulgação dos muitos atrativos que o Brasil tem. “Afinal esse setor representa 380 mil empregos diretos e 1.100.000 indiretos, somos maior do que a indústria automobilística e precisamos ser atendidos”. Destacou que todas as regiões do Brasil tem atrações especiais e que cabe a Embratur e MT investir na divulgação desses atrativos. Citou as belezas de Foz do Iguaçu, Curitiba, praias e serra catarinense, além de região das Hortênsias e outras históricas no Rio Grande do Sul.
Linhares destacou que também a reedição, por mais dois meses (até outubro) da MP 936, possibilitando a redução de salário e suspensão dos contratos de trabalho, é vista com alívio para o setor. Segundo ele, essa MP foi fundamental para evitar milhares de demissões em massa em meio a pandemia do coronavírus. Citou entre outros apoios importantes o Pronampe – Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte e recursos do Fungetur, apesar da demora na definição que como e quanto seria disponibilizado. Lembrou que a ABIH junto com parceiros fez o que pode, desde a Campanha “Adie sua viagem”, até buscar autoridades para angariar apoio.
Manoel Linhares agradeceu ao presidente da Abrajet Nacional, Evandro Novak, “pelo seu apoio em criar condições – como esse encontro virtual – para que possamos difundir nossas metas, nossa retomada”, da mesma forma que enfatizou a luta da ABIH, junto ao Congresso Nacional, com o objetivo de acabar com a cobrança da taxa do Ecad sobre a ocupação dos quartos.
Os hoteleiros defendem que o quarto é um ambiente privado e exclusivo do hóspede, assim considerado na lei geral do Turismo e na maioria dos países no mundo. Por isso, consideram pagar sobre as áreas comuns, como piscinas, restaurantes e áreas comuns, menos nos quartos. Além disso, as TVs abertas e por assinatura já recolhem o Ecad, bem como as plataformas digitais Spotify e Netflix. “Não somos contra os compositores ou músicos. Eles são nossos parceiros. Mas consideramos ilegal a cobrança da taxa sobre o apartamento”, afirmou Linhares.
Aposta em rotas regionais e integradas
Para o presidente da ABIH-SC, Osmar Vailatti, é hora das entidades do setor, do Sul do País, iniciarem projetos com vistas a roteiros integrados. “Não deixar de descuidar dos roteiros internos e regionais, nem do cuidado com nossos hóspedes, porém precisamos pensar no futuro. Temos condições de unidos darmos a nossa contribuição” disse, propondo reuniões entre lideranças dos três estados, com vistas a viabilizar rotas turísticas comuns. Destacou as muitas atrações, desde o contraste de parques tipo Foz do Iguaçu e temáticos, como Beto Carreiro, e os muitos parques das Hortênsias. Além disso, ele avaliou que a próxima temporada de praia e o reveillon2020/2021 deverão ser excelentes. “Sou um otimista e acredito na possibilidade de darmos as boas vindas ao novo ano de 2021 sem essa pandemia. Temos feito a nossa parte, aplicando protocolos de segurança à saúde. Por isso temos que esperar o melhor”, disse Vailatti. Indagado, respondeu que alguns hotéis em Santa Catarina fecharam, porém não sabe se reabrirão quando as coisas melhorarem. “Espero para logo”, apontou.
Orlando Kubo, presidente da ABIH/PR avaliou que o momento é de se apostarno turismo e rotas internas. Destacou que junto com os organismos de Turismo e Paranatur, foram aprovados roteiros que receberam apoio do Sebrae, justamente para incrementar o turismo interno. Na visão da liderança hoteleira, a chegada da vacina é que irá determinar a retomada plena do setor. Por enquanto, disse ele, estamos trabalhando para recuperar algumas perdas. Enfatizou que também no Paraná alguns hotéis fecharam mas que é cedo para afirmar que terão condições ou não de reabrir. “Poderão ser absorvidos por alguma bandeira pois estão prontos com tudo”, afirmou. Informou que cerca de 85% dos hotéis do Paraná estão abertos.
Já o presidente da ABIH/RS, José Reinaldo Ritter, destacou que por enquanto tudo está muito incerto em relação a retomada do turismo e mais ainda dos negócios, já que a maioria dos hotéis da capital gaúcha depende desse tipo de negócios para sua ocupação. Disse que em algumas regiões o movimento de final de semana é maior – caso da Região das Hortênsias e mesmo de Santana do Livramento, na divisa com a cidade uruguaia de Rivera – a ocupação da hotelaria é muita baixa, mal dá para pagar custos e que apenas 50% da rede de associados está com os estabelecimentos funcionando. Destacou que cerca de 40 a 50 hotéis fecharam até agora, mas que alguns deverão retomar em setembro.
Segurança desde o check-in ao check-out
Os próprios hóspedes estão colaborando com a sua segurança nos hotéis da Rede Mabu (o Mabu Termais em Foz do Iguaçu e Mabu Executivo, em Curitiba), do Renar (SC) e Machadinho Thermas Resort SPA, no Rio Grande do Sul. Conforme Edson Ziolkowski, proprietário do Renar, em Fraiburgo/SC, são raros os hóspedes que chegam sem máscara, quando são informados das regras impostas pelo momento. “É surpreendente como todos aceitam e estão assimilando a necessidade de convivência com outros padrões que incluem luvas para se servir no restaurante, máscara nas dependências. Nosso check-in é feito por whatsapp sem complicações. Nos surpreende que muitos hóspedes colaboram e elogiam, por exemplo, o distanciamento que tivemos que introduzir entre as mesas no restaurante, e ainda tem feito propaganda boca a boca entre seus amigos”, destacou o empresário.
O empresário avalia que a partir de agora, pode-se pensar em futuro e planejar como será o
réveillon em dezembro. “As pessoas estão trancadas em casa, querem aproveitar, ter momentos de lazer e já recebemos demandas. Como vamos fazer esse acolhimento? Indagou.
No Grupo Mabu todos os cuidados com os hóspedes são resultante de muitas reuniões, estudos sempre com vistas a qualidade do produto. “Nada foi feito ao acaso, teve participação de pessoal da área da saúde com nosso pessoal que atua junto aos hóspedes.
O trabalho que temos feito visa atrair as pessoas para os hotéis, pois hoje a hotelaria está muito mais preparada com protocolos e não vamos voltar atrás”, afirmou Eluy. Ele destaca
que apesar dos custos de preparação para ofertar mais aos hóspedes, as diárias continuam as mesmas sem aumento. “A hora é de promocionar e de absorção de custos pelo hotel. Estamos no momento de fazer a roda girar novamente”, afirmou.
“Mesmo em momentos difíceis sempre temos recomeço positivo e precisamos estar atentos e abertos aos bons momentos e oportunidades novas”, Dessa forma o diretor-geral do Machadinho Thermas Resort SPA, Juarez Tavares, se referiu as expectativas de retomada. Afinal, ele falava também de sua vida que teve um novo recomeço, já que na tarde de 25 de agosto nasceu seu filho Valentim. Foi do hospital que Juarez respondeu as questões da seguinte forma: “No Machadinho a palavra de ordem tem sido renovar, reinventar para renascer melhor ainda e criar novas atrações e possibilidades para atender nossos clientes.
Tudo dentro de protocolos de saúde acordados com autoridades da área”. Contou que o
estabelecimento atua com capacidade reduzida, cumprindo protocolos, de forma que tem
tido entre 40 a 50% de ocupação nos finais de semana e cerca de 25% nos dias úteis.
Os três estabelecimentos hoteleiros contam com equipamentos para turismo de lazer e piscinas. Liberados para a utilização das piscinas, pois conforme normas sanitárias o vírus da Covid-19 não se transmite pela água, todos mantém cuidados extremos no entorno. Poucas pessoas dentro da água, para evitar aglomerações e espaços maiores para descanso após a saída. Em Machadinho, Juarez afirma que o balneário está fechado, mas que as piscinas termais, com águas jorrando a 45 graus centígrados, até favorecem ao combate de bactérias ou vírus.
A maioria dos hóspedes nos três hotéis é constituída por famílias, o que inclui muitas crianças. Os serviços de recreação optaram por fazer brincadeiras ao ar livre. “Estamos ensinando às crianças a brincar com pandorgas, de esconde-esconde e outras brincadeiras na nossa infância”, conta Eduy, da Rede Mabu.
No Renar, até dicas de como usar proteção como luvas e máscaras viraram brincadeiras com recreacionistas e mesmo pais. “Creio que estamos vendo um novo momento até no relacionamento familiar. Muitos pais aproveitando para mostrar aos filhos como brincavam”, afirmou Edson.
Reduzir os prejuízos
O presidente da Paraná Turismo, João Jacob Mehl, discorreu sobre os projetos aprovado em seu Estado com o objetivo de fomentar o turismo interno. Na sua avaliação, é necessário muito trabalho para que o setor se recupere, uma vez que as perdas foram grandes. “A expectativa é de trabalho árduo em 2021, para alcançar algum resultado em 2022. Acho que essa pandemia trará prejuízo em torno de R$ 60 bilhões. Só os fortes vão resistir”, afirmou. Ele lamenta que não sejam criadas normas padronizadas para todo o Estado, como forma de facilitar a retomada.
Para Evandro Novak, presidente da Abrajet Nacional, a participação das lideranças representou o êxito das atividades que as Abrajet’s do Sul vem realizando. Ele agradeceu e garantiu apoio dos jornalistas de turismo às demandas do setor da hotelaria, destacando que “sempre tivemos nesse setor parceiros de verdade. Estaremos atentos para noticiar, levar a sociedade as informações que contribuam para esclarecer dúvidas”.
Além dos convidados e dos jornalistas associados, muitas personalidades prestigiaram o webinar, entre essas o vice-presidente da ABRAJET Nacional, Milton Guedes, que fez um relato sobre a situação do seu estado, o Pará. Segundo ele, o turismo amarga muitos prejuízos, inclusive com a não realização da tradicional Procissão do Círio de Nazaré, que ano após ano movimentou todo o setor. Também prestigiou o evento a jornalista uruguaia, Maria Shaw, secretaria do Fórum Iberoamericano de Periodistas de Turismo; o professor de Turismo da PUC Porto Alegre, Abdon Barreto Filho, entre outros.
Texto: Jurema Josefa – Jornalista Associada da ABRAJET Seccional Rio Grande do Sul