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O Mamulengo ocupava um espaço de muita importância no universo dos espetáculos populares

O Malulengo e seu Petronilo

No Nordeste Rural, numa época que não havia energia elétrica e tampouco rádio e televisão, o Mamulengo ocupava um espaço de muita importância no universo dos espetáculos populares, divertindo e educando as populações do interior.

Em Surubim e na região, o grande expoente dessa atividade, o maior entre todos os mamulengueiros, foi indiscutivelmente o Sr. Petronilo Dutra, nascido em 1889 no então povoado de Casinhas. Àquela época essa povoação pertencia ao município de Bom Jardim, depois, em 1928, com a emancipação de Surubim, passou a integrar esse município como um dos seus distritos. Finalmente em 1995 Casinhas teve sua emancipação política confirmada passando a se constituir em novo município pernambucano. Portanto, Seu Petronilo foi bom-jardinense, surubinense e casinhense. Entretanto, sua vida passou-a em maior parte na cidade de Surubim com a qual teve sua identidade mais profunda, sendo inclusive enaltecido no Hino municipal. No poema que integra esse Hino o autor, Jessé Cabral, afirma entre outras qualificações que Surubim é a “terra (…) de mamulengo afamado”.

Teve uma vida longeva, pois veio a falecer em 1994 aos 106 anos incompletos, quase atravessando todo o Século XX. Viu, pois, as grandes transformações chegarem à sua porta, entre elas, a televisão, que decretou o fechamento de quase todos os cinemas interioranos assim como tirou o brilho dos espetáculos de Mamulengo transformando-os em coisas do passado.

À luz dos dias atuais, essas expressões da arte popular começam a ser resgatadas e devidamente valorizadas, porquanto são raízes culturais, que devido à sua ancestralidade, estão profundamente vinculadas à alma do nosso povo. Formatadoras, portanto da nossa identidade.

Os bonecos aqui expostos não são o conjunto completo do Mamulengo de Seu Petronilo. Faltam figuras importantes como a Morte que invariavelmente participava das apresentações dos mamulengos. Não temos certeza de seu destino. Não participam também desse conjunto, três outros bonecos que reservamos para uma possível doação ao Parque dos Mamulengos Gigantes, quando destinarem um espaço para sua exposição.

O Restaurante Capitu, ao trazer ao público esse acervo que pertenceu ao Seu Petronilo resgata um pouco da nossa história, a História da Alegria de Um Povo que riu e se deleitou com as proezas de Simão, Dona Encrenca, Tilolô e outros personagens que conviveram durante décadas com os nossos antepassados.

Nomes dos bonecos de Seu Petronilo

O Mamulengo conforme o pesquisador Hermilo Borba Filho “é nossa exclusiva forma de espetáculo total, onde o boneco é o personagem integral e o público um elemento atuante”. (in Espetáculos Populares de Pernambuco).
1 – Simoa / 2 – Roseno / 3 – Cotia / 4 –Chico Bonito / 5 – Tenente Chiquita / 6 – Tramboi / 7 – Tilolô (o padre Ferreira só perguntava por ele) / 8 – Juquinha / 9 – O boi / 10 – Doutor Carambola / 11 –Tobias / 12 – Simão (certamente o boneco principal e único com articulação bucal) / 13 – Brexó / 14 – Cafifa / 15 – Vitorina / 16 – Caçula / 17 – Chico Tripa / 18 – João Camba / 19 – João Gago / 20 – Dona Meleca / 21 – Dona Creuza / 22 – Vitorina (pertenceu ao primeiro mamulengo) / 23 – Antônio Jia / 24 – Dona Encrenca (pertenceu ao primeiro mamulengo, era assanhada demais*)
*Depoimentos de Seu Petroniilo – ano de 1988”.

Texto: Fernando F. Guerra – 15 de junho de 2021