Prudentópolis é uma cidadezinha pacata localizada a aproximadamente
200 km de distância de Curitiba. Uma pérola escondida no interior do
Paraná. A começar pela rica cultura ucraniana, importada da Europa pelas
famílias que colonizaram a região. As ruas são coloridas pelas casas que
prezam a nostalgia da arquitetura típica, os restaurantes servem a gastronomia
ucraniana e as tradições são ministradas aos jovens, embora nem
todos as dominem com exemplar propriedade.
Os costumes ucranianos compõem a alma do município, traduzidos na
dança do Grupo Foclórico Vesselka, na delicadeza do artesanato e na preservação
do alfabeto e da língua – há quem sequer fale o português! A
população prudentopolitana claramente compreende que manter a língua
viva na região é o primeiro passo para que as raízes da cultura não se
dissolvam.
Artesanato
As matruskas ou matrioskas eu já conhecia. São as bonecas de madeira
ocas que se encaixam uma dentro da outra. Herdei algumas da minha
avó, e completei a coleção nessa viagem. Elas simbolizam a família e são
sempre pintadas à mão e com cores vibrantes. Aliás, as cores fortes são
uma marca forte da cultura ucraniana, que se faz presente nas delicadas
pêssankas, aqueles ovos também pintados à mão. Engana-se quem pensa
que as pinturas são feitas arbitrariamente, no ritmo da inspiração da artista:
em todo o artesanato típico, cada desenho representa um significado.
Esta simbologia é explicada nas lojas de souvenir.
Prudentópolis sedia, dentro do Museu do Milênio, a “Cooperativa Ucraíno-
Brasileira de Artesanato Prudentópolis Ltda”, formada por mais de
cem bordadeiras que fazem um trabalho bastante característico. Fiquei
encantada por um tecido bordado com o alfabeto ucraniano e pedi para
que uma das moças o lesse em voz alta. Ela recitou um Pai Nosso, espelho
de um povo extremamente católico. O museu, que tem como curadora
a cuidadosa e atenciosa Sra. Meroslava, expõe peças e documentos que
resgatam a memória da colonização.
Natureza amiga
O que me atraiu na viagem foi o turismo de aventura. Eu não tinha contato
intenso com a natureza desde os acampamentos de férias do ensino
fundamental. A zona rural de Prudentópolis sedia inúmeras cachoeiras,
das quais várias têm altura superior a 100 metros. Não é à toa que o município
é apelidado de “terra das cachoeiras gigantes”. Pudera! Foi abençoado
com um relevo bastante desnivelado, e é dono de hectares ainda
desconhecidos. Ou seja: além das cachoeiras ofertadas pelos roteiros turísticos,
deve haver outras ainda desconhecidas.
Visitei o alto de uma cachoeira de 217 metros, com vista para uma irmã
gêmea logo à frente. Dá para ter noção do que é isso? Um cânion com
dois véus de noiva escondido nas entranhas do estado das araucárias! A
sensação de observar a natureza naquele mirante de pedra foi de liberdade
e desapego total da vida urbana. Eu passaria o dia todo observando
aquele cenário… O horizonte se perde de vista com a trilha sonora do relaxante
som das águas, misturando o verde das folhas com o azul do céu.
É inebriante!
Esta cachoeira tem acesso fácil, e é um dos passeios ofertados pela
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Ninho do Corvo, administrada
pelo proprietário Márcio Canto de Miranda – um aventureiro de
carteirinha. A primeira parte do trajeto é feita numa Land Rover 4×4, e o
restante é percorrido a pé. Um trecho tranquilo de caminhar e com poucos
desníveis. Mal chega a tirar o fôlego de uma pessoa sedentária. Se o
fôlego acaba, é só mais tarde, com os suspiros arrancados pela paisagem
bucólica do destino final deste passeio.
A RPPN Ninho do Corvo é a minha sugestão para um fim de semana
em Prudentópolis, com ótima estrutura para hospedar pequenos grupos.
As acomodações podem ser feitas em quartos ou no camping, e incluem
banheiros e área para refeições. Após a visita à cachoeira de 217 metros,
há passeios para pessoas mais ou menos aventureiras (de caminhadas à
canionismo). Basta escolher o nível de dificuldade e utilizar os equipamentos
de segurança oferecidos pelo local. Se você for ciclista, leve sua bike
para acompanhar o Márcio num cicloturismo.
Lá na Ninho do Corvo há duas tirolesas. A maior e mais impressionante
leva o nome de Corvolesa, e percorre 140 metros descendo o Cânion do
Rio Barra Bonita e passando por dentro de uma cachoeira. Esta proporciona
uma vista incrível. E também roupas molhadas e uma deliciosa dose
de adrenalina. A outra tirolesa tem 100 metros de extensão e sobrevoa o
vale do Corvo, durante cerca de 15 segundos. É bem light, e a minha dica é
utilizá-la como um aquecimento para a Corvolesa.
Além das tirolesas, existe a Rapelesa, um rapel guiado de 70
metros de altura que cruza o Cânion do Rio Barra Bonita. Como
esta atividade não exige muito esforço e tem um nível de dificuldade
baixo, é bacana para quem não é familiarizado com a prática
de rapel.
Krakóvia
A gastronomia ucraniana mistura elementos das cozinhas
oriental e ocidental, e é rica em sabores agridoces. A culinária
abrange o kutiá, um pudim feito de trigo, o korovai, um pão doce
servido em casamentos e a sopa de beterraba. Um prato que eu
já conhecia e agrada muito ao meu paladar é o perogue (perohê
ou varênik), uma espécie de pastel cozido recheado com batata e
ricota ou requeijão e servido com molho.
Minha surpresa foi conhecer a história da krakóvia, uma saborosa
variação da mortadela que eu atribuía a origem estrangeira,
muito possivelmente por levar o nome da cidade polonesa.
Descobri que esta confusão é bastante comum ao conhecer, em
Prudentópolis, a casa de carnes que criou a iguaria. A Casa de Carnes
Alvorada desenvolveu este produto na década de 1970, para
agradar ao gosto exigente de um freguês que era dono de uma
churrascaria da região. A krakóvia é fabricada artesanalmente
com carne suína defumada, alho, sal e pimenta.
A viagem foi um convite do Sebrae-PR e Cooperativa Paranaense
de Turismo.
A maior feijoada do mundo
Prudentópolis faz aniversário a 12 de agosto. Este ano serão
comemorados 107 anos da criação do município e na mesma data
acontece a IV Edição da Festa Nacional do Feijão Preto que tem
como principal atração a maior feijoada do mundo, feita na maior
panela do mundo. Ela é preparada numa panela gigante, de 12
toneladas que, segundo o Livro dos Recordes, é a maior do mundo.
A movimentação dos ingredientes dentro da panela é feita com uma pá
adaptada a uma escavadeira hidráulica. A feijoada já chegou a alimentar
seis mil pessoas.
Texto: Jornalista Daniella Bittencourt Féder