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5 perguntas para o presidente da Abrasel

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Bares e restaurantes foram afetados pela pandemia e, principalmente, pelo abre e fecha determinados por Estados e cidades. Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci revela que o setor fechou um milhão de postos de trabalho e que 30% dos restaurantes e bares que existiam fecharam para não mais voltar. Entrevistado pela Now Boarding, ele defende que a solução para o setor passa pelos governos municipais que podem ajudar a maioria absoluta por micro e pequenas empresas, “muitas de cunho familiar”, que estão lutando para sobreviver nas cidades e destaca do governo do Amazonas que numa medida simples e decisiva apoiou os bares e restaurantes do Estado.

Como o senhor avalia o ano de 2020 para o segmento de restaurantes? O senhor tem dados sobre a quantidade de desempregados e fechamento de restaurantes durante a pandemia?

Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) – Sem sombra de dúvida, 2020 foi o ano mais difícil para o setor de alimentação fora do lar no Brasil. A crise advinda da pandemia é sem precedentes, o setor foi um dos mais duramente afetados pelas restrições impostas e isso resultou num encolhimento dos negócios e dos empregos.

Se antes da pandemia o setor tinha um milhão de estabelecimentos em todo o país e gerava seis milhões de empregos diretos, chegou agora com 30% dos negócios de portas fechadas em definitivo e um milhão de postos de trabalhos a menos. E isso é muito grave.

A Abrasel tem diversas regionais pelo país. O impacto da Covid-19 atingiu de maneira uniforme todas elas ou em algum Estado o setor de restaurantes e bares teve resultados melhores? Em alguns Estados a fiscalização tem sido muito rígida com os bares e restaurantes. Como a Abrasel analisa esta postura?

Paulo Solmucci – O setor todo foi duramente atingido, mas em algumas cidades a situação é ainda mais alarmante devido às duras restrições impostas. Belo Horizonte, por exemplo, foi a cidade que impôs a maior quarentena do mundo ao setor; só em 2020 foram 170 dias fechados. Além disso, depois da retomada, proibiu a venda de bebidas alcóolicas nos bares e restaurantes e, em janeiro de 2021, fechou o setor novamente, por 21 dias.

Já São Paulo, além de reduzir os horários de atendimento (o jantar, por exemplo, só podia funcionar até às 20h, o que não faz sentido algum), proibiu o uso de mesas ao ar livre, indo na contramão de toda recomendação da comunidade científica de que áreas abertas são mais seguras. Como se não bastasse, em janeiro deste ano, aumentou o ICMS do setor em 15%, além dos impostos sobre carnes e outros produtos em até 90%. Isso tudo, repito, num momento em que o setor vive a maior crise da sua história, que já culminou com o fechamento de milhares de negócios e a extinção de um milhão de empregos.

E essa rigidez excessiva imposta, ao contrário do que algumas pessoas podem supor, não ajudou a frear o contágio. Pelo contrário, com o fechamento dos bares e restaurantes, as pessoas foram levadas aos encontros e aglomerações clandestinas. Os tristes resultados nós estamos acompanhando: o Brasil acaba de atingir o recorde de morte diárias pela Covid-19.

A sensação é que na busca por apoio popular, alguns prefeitos e governadores elegeram o setor como bode expiatório da crise e o sobrecarregou com medidas excessivas, que se mostraram ineficazes – ou não estaríamos na situação atual. Com um ano de pandemia, o momento de errar já passou. É preciso pensar de forma estratégica em soluções que de fato contribuirão para mitigar a Covid-19.

Nesse sentido, a Abrasel lançou em janeiro, por exemplo, uma campanha em prol da vacinação, incentivando que empresários, funcionários e clientes se vacinem assim que chegar o momento de cada um deles na fila da vacina.

A ajuda do governo federal, e em alguns casos dos estaduais, foi suficiente para os empresários conseguirem manter suas operações?

Paulo Solmucci – A ajuda federal com os programas de crédito, com o programação de suspensão ou redução de jornada de trabalho e ajuda para pagar os salários, além do benefício emergencial para a população mais marginalizada, foi, sem dúvida, fundamental para minimizar os estragos da crise.

Mas essas medidas só tiveram efeito até dezembro, por isso, estivemos em reunião com o presidente Jair Bolsonaro e os ministros Paulo Guedes (Economia) e Gilson Machado (Turismo) agora em janeiro para pedir a extensão desses benefícios, além de uma ajuda especial para o setor, que foi mais duramente atingido.

Mundo afora e até mesmo aqui no Brasil, temos bons exemplos dessa ajuda especial a bares e restaurantes. O governo do Amazonas, por exemplo, entendendo o cenário, reduziu o ICMS para o setor em 60%. Ou seja, é possível dar ao setor que mais gera empregos diretos no Brasil condições de sobreviver.

O que a Abrasel acredita que ainda possa ser feito, de ajuda oficial ou não, para que o segmento tenha uma recuperação sustentável?

Paulo Solmucci – Como disse, é de suma importância a extensão dos programas que o governo federal colocou em prática até dezembro. Nós começamos o ano sem essa ajuda e o cenário não tem se apresentado melhor, pelo contrário. Em muitas capitais, as medidas estão ficando mais severas.

Os Estados e municípios precisam fazer sua parte, apoiando os bares e restaurantes, como por exemplo, com a redução, adiamento ou extensão de prazo para pagamento de impostos e alíquotas. Não dá para esperar que o governo federal resolva a crise sozinho. Nós estamos dialogando com governadores e prefeitos em todos os Estados, pautando a situação do setor. É preciso olhar com zelo, responsabilidade e respeito para o que está acontecendo.

Nenhum negócio suporta esse “abre e fecha” por tanto tempo, em especial um que é feito em sua maioria absoluta por micro e pequenas empresas, muitas de cunho familiar. Essa turma não tem reserva para aguentar tudo isso. Nós não estamos falando de indústria, de empresas milionárias. Estamos falando do boteco de bairro, do restaurante a quilo, da pequena padaria perto da sua casa. O setor precisa de ajuda urgentemente.

O senhor acredita que os hábitos adquiridos durante a pandemia (distanciamento social e uso de máscaras), mesmo com a vacinação, vão mudar a forma do brasileiro viver a experiência de ir a um restaurante? Como os restaurantes e bares encaram esta mudança e os como eles têm suportado os custos para seguir os protocolos sanitários?

Paulo Solmucci – Alguns hábitos virão para ficar, como a maior higienização das mãos – o que é muito positivo. Mas os bares e restaurantes são locais de encontro, de afeto, de confraternização, de alegria – tudo que todos nós queremos, em especial depois de meses de tantas restrições e de isolamento. Essa necessidade de socialização é algo inerente ao ser humano e acredito que isso ser mostrará ainda mais forte quando a pandemia passar.

No momento, é possível seguir frequentando os bares e restaurantes, que estão preparados para receber de forma segura os clientes, seguindo os protocolos sanitários, como distanciamento entre as mesas, reforço na higienização, disponibilização de álcool em gel. São custos que os negócios tiveram que absorver para seguir de portas abertas e há uma consciência muito grande sobre isso. Não são esses custos que estão apertando o calo das empresas no momento.

Texto: Jornalista Jean Luiz Féder – Editor da Now Boarding, associado da ABRAJET PR